Seja bem-vindo
São Paulo,22/07/2025

  • A +
  • A -

Darfiny

Entre Agulhas e Máquinas: O Dilema da Artesania no Luxo

Hermès
Entre Agulhas e Máquinas: O Dilema da Artesania no Luxo

Chanel divulgou seu processo produtivo de bolsas em um vídeo que destaca o uso de máquinas. Ao mesmo tempo, diversos vídeos de produtores chineses viralizam nas redes sociais, alegando serem os fabricantes oficiais de várias marcas de luxo. Isso acontece em um momento em que Dior e Armani também enfrentam investigações sobre práticas trabalhistas ilegais envolvendo fornecedores chineses.

Então, é tudo uma farsa? Onde está o "feito à mão"?

Já se sabe que o pilar que sustenta a narrativa de valor e exclusividade no luxo é a artesania, o que explica sua estreita relação com a arte nos processos produtivos. Porém, arte não se reproduz em escala. Isso significa que, se uma marca possui alcance global, é inevitável que alguma etapa do processo seja automatizada para garantir escalabilidade e atender à demanda mundial, pois é humanamente impossível uma multinacional se manter apenas com processos manuais.

Por essa razão, é comum que as maisons de luxo possuam um carro-chefe, o produto mais caro de sua linha, que exemplifica o ápice da qualidade e do trabalho artesanal. Um exemplo é a famosa Birkin, da Hermès. A marca afirma que essa bolsa é 100% artesanal, justificando a escassez nas lojas. No entanto, isso não impede a Hermès de escalar outros produtos, como sua linha de maquiagem, que não possui nenhum elemento artesanal.

No caso da Chanel, seu maior foco não é a manipulação artesanal do couro, como ocorre com a Hermès, mas sim a alta-costura e a perfumaria. Nesse sentido, um vídeo mostrando máquinas no processo de produção de bolsas causaria maior espanto vindo da Hermès do que da própria Chanel.

Se não é 100% artesanal, é uma mentira? Não necessariamente. Para um produto ser considerado de luxo, é essencial o compromisso com padrões elevados de excelência, competência e qualidade. Nesse contexto, o "como se faz" é tão importante quanto o "o que se faz". Assim, o toque artesanal agrega ainda mais valor aos produtos. Contudo, já sabemos que uma empresa de alcance global não pode ser sustentada exclusivamente por processos artesanais. É inevitável a existência de máquinas e, eventualmente, a terceirização de partes do processo.

A automação em algumas etapas não compromete a qualidade, desde que a empresa seja transparente sobre seus métodos produtivos e mantenha os padrões de excelência prometidos. O problema não reside na terceirização ou na automatização em si, mas em como e com quem esses processos são realizados.

Os artesãos chineses podem ser tão competentes quanto os europeus. Porém, a China é amplamente reconhecida como um país que utiliza mão de obra barata, muitas vezes em condições de trabalho desumanas. Além disso, é líder global em falsificações.

Nesse sentido, essa associação é prudente para uma marca de luxo? Se o "como se faz" é tão relevante quanto o "o que se faz", o cuidado com parceiros e fornecedores torna-se crucial para evitar crises de credibilidade. Afinal, o barato pode sair caro.

Com tudo isso, será que o luxo está em declínio? Qual o papel da arte nesse processo? Vamos discutir isso na próxima semana.




COMENTÁRIOS

LEIA TAMBÉM

Buscar

Alterar Local

Anuncie Aqui

Escolha abaixo onde deseja anunciar.

Efetue o Login

Recuperar Senha

Baixe o Nosso Aplicativo!

Tenha todas as novidades na palma da sua mão.